terça-feira, 3 de maio de 2016

Upgrade em Pré Conrad Johnson PV10AL

Olá leitores! Acredito que este será um post bem interessante, por se tratar de um upgrade. Raramente posto sobre upgrades por aqui, mas este pré em especial mereceu um post!

Há muito tempo que conheço os prés da Conrad Johnson, em especial os PV10, muito comuns no mercado brasileiro, por serem prés valvulados relativamente baratos. Curiosamente, estes prés nunca me impressionaram em termos de sonoridade... muito pelo contrário! Sempre achei eles muito fraquinhos. As altas sempre me incomodaram e sempre foi extremamente fatigante ouvir estes aparelhos.

Pois bem, há algum tempo recebi um Pré Conrad Johnson PV10AL para upgrade. O proprietário reclamava que, apesar de gostar da sonoridade, o pré era muito 'brilhante' (nenhuma novidade até aqui). Resolvi ouvir o pré em seu estado original primeiro. Não precisei ouvir nem 5 minutos para comprovar o que já sabia: faltava corpo nas vozes e os agudos incomodavam absurdamente. Não sei como a Conrad Johnson projetou e vendeu algo assim, e como alguns ainda podem gostar deste pré em seu estado original

O próximo passo então é traçar a curva de resposta do pré, antes do upgrade, para ver se ela comprova o que nosso ouvido já nos indicava. Será?

Todas as curvas foram traçadas por um medidor de resposta em frequência computadorizado, dentro do prazo de calibração.

Curvas de resposta antes do upgrade


Canal direito


Canal esquerdo


Bingo!! Reparem que a saída em 20 kHz já está 3 dB acima da saída em 1 kHz. Isso é um exagero! E vejam que a saída começa a subir em 2 kHz... ou seja, todas as altas frequências apresentam agudos de 1 a 3 dB mais altos que as frequências mais baixas.

A banda passante do pré é muito boa. Veja que ele responde até acima dos 100 kHz. Muitos audiófilos vêem isso como um grande benefício, mas, a verdade é que não ouvimos nada acima dos 18 a 20 kHz. A vantagem de ter uma resposta PLANA até 100 kHz é que desta forma sabemos que em 20 kHz ela ainda estará plana, sem perdas ou ganhos, o que evidenciaria uma boa resposta em frequência.

Além disso, sabemos que resposta em frequência não é tudo. Na verdade, não é quase nada, visto que a resposta em frequência é apenas uma de inúmeras análises que devem ser feitas para se interpretar a sonoridade resultante de um sistema. No entanto, para este upgrade, a resposta em frequência é essencial, pois o principal fator evidenciado durante as audições eram os altos ganhos nos agudos.

Além do pré naturalmente apresentar uma resposta em frequência exagerada em altas, ele chegou até nós com válvulas fabricadas pela Ei com maquinário Telefunken, famosas pelos pronunciados agudos. Estas válvulas não são indicadas para uso neste aparelho e é por este motivo que sempre fornecemos uma consultoria na escolha das válvulas, de acordo com o sistema e com preferências e expectativas do usuário.


Pré antes do upgrade


O upgrade

Como todo upgrade, primeiro deve-se ouvir a expectativa do cliente, além de ouvir o aparelho em questão no sistema que será usado e tentar claramente estabelecer objetivos do upgrade, definindo-se o que deve ser feito. Todo upgrade é um tipo de customização para que um aparelho melhor atenda os anseios de seu proprietário.
Como sempre faço, optei por modificar levemente o circuito de forma que fosse possível reduzir os ganhos em alta, e, preferencialmente, limitar a resposta após os 20 kHz. Muitos sistemas e até caixas são capazes de reproduzir até os 30 kHz ou mais. Apesar de não ouvirmos sons nesta frequência, conteúdos nesta região espectral podem causar fadiga, e já vi sistemas oscilarem nestas frequências. Além disso, os sistemas que para mim (e para todos adoradores de Western Electric e Altec e outros vintage), os sistemas que soam mais naturais são aqueles que não respondem muito além dos 16 ou 18 kHz. Talvez porque minha audição é muito sensível a altas frequências, ou talvez porque realmente a maior presença de médios, frequências nas quais estamos evolutivamente mais sensíveis, tornem a sonoridade mais orgânica e mais suave. Fato é que a sonoridade dos Altec 604 e outros sistemas vintage apresentam uma macrodinâmica fabulosa, devido a inúmeros fatores, que não se limitam à resposta em frequência. Esta discussão poderia render infinitamente, muitos discordarão e outros concordarão, até porque existe o fator preferência pessoal e memória psicoacústica, que são fatores individuais. Não há verdade absoluta, mas expresso aqui minhas preferências. Além disso, o cliente usava caixas que sabidamente exagerem nos agudos e seu sistema, claramente, exagerava nas altas ao ponto de incomodar.

Continuando, optei então por upgrades fáceis de serem desfeitos, simples de serem implementados, e que limitem o ganho em altas e a resposta em frequência. Gosto muito dos médios das válvulas 12AY7 e me decidi por sugerir estas válvulas como upgrade.

Inicialmente estudei o circuito original para decidir os upgrades necessários.


Circuito original PV10AL


Em seguida as modificações foram planejadas e executadas.


Pré após upgrades

Curvas de resposta após upgrade


Bom, não adianta nada postar aqui o upgrade sem uma resposta de frequência mostrando que algo mudou certo? Espero que tenha mudado da forma esperada! Vamos ver?


Canal direito

Canal esquerdo


Vejam que o circuito final ficou com resposta em ±1 dB entre 20 Hz e 20 kHz, além de uma queda em altas, ao invés de subir indefinidamente, como era antes. Vejam que foi implementada uma curva de preferência, conforme os requisitos definidos anteriormente. Sucesso total!

Mas... agora vem o teste do ouvido, certo? Tocou melhor? Na minha opinião, MUITO MELHOR. Algo que eu odiava, tornou-se muito agradável. Mas será que o cliente vai gostar? 

Estava presente quando o cliente ouviu este pré pela primeira vez depois do upgrade... confesso que eu devia ter filmado a reação, pois ficou marcada em minha memória. Foi difícil convencê-lo que era o mesmo pré! Palavras do proprietário: "Nunca fiz melhor investimento na vida!". Provavelmente um exagero devido a emoção do momento, mas tenho de confessar que o pré mudou completamente.

Todos estes gráficos de nada servem se nosso ouvido não aprovar. Nossos sistemas não usados para ouvir música e não há melhor equipamento de teste que nossos ouvidos e nossa satisfação.

Aproveito o post para enfatizar a necessidade de bons equipamentos de teste. Veja o quanto um Analisador de áudio computadorizado ajuda para se efetuar upgrades certeiros, Conheço muitos 'técnicos' que fazem upgrades por chute: saem trocando aleatoriamente peças originais por outras mais caras. O resultado? Um elevado custo para o cliente e um resultado muitas vezes decepcionante ou mesmo catastrófico!
Para este upgrade, a principal ferramenta usada foi um Analisador de Áudio da Keysight.

Grande abraço e até a próxima!