domingo, 21 de agosto de 2016

Sistema Hi-End Tri-Amplificado

Sim, o título não está errado! Resolvemos montar um sistema tri-amplificado, com nada menos que 5 amplificadores para um som estéreo! Imagino que a maioria de vocês nunca ouviu um sistema triamplificado, e este meu post tem exatamente o objetivo de despertar a curiosidade e incentivar todos vocês a experimentar novos arranjos e setups.

Primeiramente, muitos vão perguntar... para que isso tudo? Complicar a toa?? Pois a ideia não é complicar... apesar de ser o que parece. A ideia é exatamente o oposto, ter o caminho de áudio o mais limpo e claro para os diferentes conteúdos de frequências !!

Vou começar dando uma pequena explicação sobre como seu setup atual provavelmente funciona, se você usa um par de caixas e apenas um par de amplificadores mono ou um amplificador estéreo. Como sabemos, a maioria dos alto falantes não são capazes de reproduzir todas as frequências do espectro, de 20 a 20.000 Hz. Ou seja, usamos caixas de 2, 3 ou mais vias, separando este espectro em faixas, onde cada alto falante será responsável por reproduzir uma pequena parte deste espectro de frequências... mas você sabe quem 'divide' o espectro, enviando apenas uma parte do áudio para cada alto-falante? Chama-se crossover, e a maioria de nós usa o crossover embutido em nossas caixas acústicas, chamado de crossover passivo.

Chegou a hora de falarmos sobre crossovers. Pegue uma pipoca e continue lendo, prometo que será interessante :) Não quero ser técnico demais, quero apenas explicar o básico sobre crossovers, pois é uma contextualização importante para a compreensão geral deste artigo.

Existem dois tipos de crossovers: ativos e passivos. O crossovers passivos usam somente componentes passivos e não necessitam de uma fonte externa de alimentação para funcionamento. São estes crossovers que você possui embutido dentro de suas caixas acústicas, e provavelmente é este que você está usando neste exato momento para separar as diferentes frequências em seu sistema. São crossovers que trabalham com alta potência, pois atuam no sinal de saída do amplificador.
Por outro lado, temos os crossovers ativos, que são alimentados e, dentro da cadeia do áudio, são inseridos entre o pré e o(s) power(s), e por este motivo, não usam componentes de alta potência.

Crossover Passivo

Crossover Ativo Valvulado Luxman


Como disse antes, não quero ser muito técnico, e me limitarei a dizer que crossovers ativos são infinitamente superiores aos crossovers passivos. Ao se remover o crossover passivo, conectamos os falantes diretamente ao amplificador, permitindo que este trabalhe com controle total sobre o falante, eliminando todos os efeitos danosos provocados por este circuito intermediário de potência.

Se quiser ler mais sobre o assunto, e as diferenças reais e as explanações técnicas do porque dos grandes benefícios dos crossovers ativos, recomendo a página de Rod Elliott em inglês: http://sound.westhost.com/biamp-vs-passive.htm

Pois bem, a grande vantagem de se biamplificar ou triamplificar, é ELIMINARMOS completamente o crossover passivo das caixas e o trocarmos por um ativo. Em um sistema tri-amplificado, de 3 vias, é possível removermos totalmente as grandes limitações dos crossovers passivos e criarmos um sistema absolutamente superior aos tradicionais que estamos costumados a ouvir!

Pois foi o que fizemos. Já fazia muito tempo que eu planejava mentalmente me aventurar na montagem de um setup tri-amplificado, combinando alguns falantes e componentes que sempre me deram muito prazer na audição mono ou bi amplificada. Porque não, então, juntar tudo em um só? Muitos vão achar doidice, loucura... chamem como quiser. Estou aqui para experimentar, afinal, não é assim que se chega onde ninguém chegou antes?

Sempre gostei dos agudos dos tweeters ElectroVoice T350, dos médios das B&W e dos graves da JBL. Então, que tal somar tudo? Resolvi usar:
  • Tweeter ElectroVoice T350
  • Caixa B&W 685
  • Caixa JBL 4507
Para os powers, sempre gostei dos agudos dos Quad II, os médios dos McIntosh MC30 e os graves de um amplificador solid state nosso, que comercializamos no passado. Mais uma vez, vamos juntar tudo:
  • Par de monoblocos Quad II
  • Par de monoblocos McIntosh MC30
  • Power Estéreo Regence Audio SSA-01
Mas... qual crossover ativo utilizar? Eu não queria muitos transistores no caminho do áudio, então, optei por importar um crossover valvulado Luxman A2003, de 3 vias. Ideal para este setup!!

Por fim, escolhi como pré o Marantz 7, meu preferido de todos os tempos. Agora era só montar tudo... certo? Facinho...

Ou não! Ajustar o sistema todo foi uma trabalheira inimaginável. Primeiro tive de medir o SPL de cada um dos falantes, para depois calcular os ganhos individuais para cada via. Depois, tive de conferir e checar a fase de cada uma das vias, para garantir que tudo estaria em fase. Por sorte o Luxman permite inverter individualmente cada fase se necessário, uma mão na roda. Feito tudo isso com instrumentação específica, era hora de ouvir e fazer o ajuste fino. Mais uns 10 dias de mudança, melhoras, pioras, trocas... ufa! Confesso que foi um ENORME aprendizado. Deu muito trabalho mas valeu a pena!





Terminado e funcionando, era hora de convidar alguns amigos músicos para ouvir o setup... o pessoal enlouqueceu! Realmente surpreendeu. É um setup muito complexo de ser feito, que exige mais experimentação que muitos outros (pois possui uma infinidade a mais de parâmetros para serem ajustados), mas afirmo que vale a pena o esforço, pois o resultado compensa!

Portanto, convido a todos a experimentar. Experimente válvulas diferentes, setups diferentes, abra sua cabeça ao novo, até você encontrar aquele sistema que te tira do mundo real e te conduz para dentro da música. 


Happy Listening!



domingo, 14 de agosto de 2016

Audio Research SP-6

Amigos, um novo aparelho chegou até nossas mãos!

Recebemos um Audio Research SP-6 para um revisão geral. O aparelho estava funcionando, mas já não passava por revisão há muito tempo, apresentava um leve odor de queimado quando ligado e os controles estavam ruidosos.




O primeiro passo, sempre que recebo um equipamento, é abrir e fazer uma análise visual. Como já trabalho há muitos anos com estes equipamentos e possuo muitos deles em minha coleção particular, sei exatamente como deveriam ser originalmente, e procuro por modificações e componentes trocados. Como no Brasil não temos quase nenhuma mão de obra especializada em valvulados Hi-End, inúmeras vezes me deparo com aparelhos totalmente "gambiarrados", consertados por técnicos de esquina que nunca trabalharam em um valvulado.




Só de bater o olho, já vejo alguns componentes trocados: um regulador da fonte, capacitores eletrolíticos, alguns de acoplamento e a placa temporizadora. Nada grave para um aparelho desta idade. Costumo criticar os trabalhos prévios executados em grande parte dos aparelhos que recebo (pois só me aparece "gambiarra" rs...), mas no caso deste aqui, quem o executou está de parabéns. Um trabalho limpo e organizado, como deve ser. Infelizmente o executor deste reparo não deixou nenhuma marca ou etiqueta, para que eu o elogiasse abertamente por aqui... se você ler este post, identifique-se!

Hora de verificar as válvulas. Sempre que recebo um aparelho testo todas as válvulas e verifico  o fabricante, a origem e a qualidade, para sugerir eventuais upgrades ou trocas em caso de defeito. Conheço todas as válvulas já fabricadas, modelos, fabricantes, país e cidade de origem, estrutura interna, distribuidores, etc. Quem entende de válvulas sabe que todos este fatores são muito importantes para se definir a qualidade de uma válvula NOS!




Uma rápida análise indica que estas  são válvulas Hoges. A Hoges era uma empresa Alemã que não fabricava, mas apenas distribuía válvulas. A estrutura interna revela que esta válvula foi fabricada pela Ei, depois da compra do maquinário da Telefunken. É uma válvula Ei Smooth Plate, excelentes válvulas e todas com boa transcondutância. Nada a ser feito aqui.

Continuando a análise percebi que o circuito de temporização foi refeito, pois não era original. Apesar de ter sido feito em uma placa perfurada padrão, mais uma vez quem fez este trabalho foi cuidadoso! Trabalho limpo e bem feito. O tempo de fechamento do relé foi aumentado em relação ao tempo original, o que não é problema, a menos que o proprietário seja muito impaciente :).




Chegou a hora de atacar os problemas conhecidos!

Neste momento, sempre ligo o equipamento com um VARIAC, enquanto monitoro tensões chave do circuito. Se algo estiver errado, posso perceber antes que algum dano pior aconteça.

O odor de queimado estava sendo causado por um resistor de fonte, que é usado para reduzir a tensão entregue a um regulador da fonte, evitando-se assim superaquecimento e falha do regulador, Apesar de original, este resistor já estava fora de tolerância em mais de 30% e foi trocado.




Todos os controles e chaves foram cuidadosamente limpos com um produto próprio para essa finalidade. Queria aproveitar este momento para frisar que JAMAIS, JAMAIS, EM CASO ALGUM deve-se usar WD40 na limpeza de chaves e potenciômetros. Apesar de funcionar no curto prazo, o WD40 poderá a longo prazo danifiar partes internas dos potenciômetros, tornando o aparelho totalmente inutilizável e, em caso de alguns vintages, irreparável. Fica a dica!

Em seguida os conectores traseiros foram limpos e foi feita uma limpeza geral interna e externa. Alguns conectores não eram mais originais, mas a troca foi bem feita. Eu trocaria todos, mas essa não parece ter sido a escolha do restaurador anterior.




Por fim, fizemos nossa tradicional audição de 8h seguidas para garantir o perfeito funcionamento e sonoridade, e o equipamento foi enviado de volta a seu dono! Tudo perfeito!




Até a próxima meus amigos!